Participei durante 3 dias da Expo-Estádio 2009 em São Paulo,entre os dias 17 e 19 de novembro pp, onde conhecí 9 dos 12 escritórios de arquitetura e os projetos dos estádios brasileiros que sediarão a Copa do Mundo da FIFA de 2014.
O Expo Estádio foi lançado com sucesso em 2009, reunindo cerca de 100 expositores de 15 países. O evento preencheu uma lacuna ao prover fornecedores para o mercado de infraestrutura esportiva por meio de uma plataforma que visa estádios e locais esportivos. O Expo Estádio é único no mercado pelo fato de concentrar-se somente em infraestrutura e equipamentos para esportes.
O Brasil é sem dúvida o país com as melhores oportunidades para empresas do setor de infraestrutura esportiva nos próximos anos. Pelo fato de sediar os Jogos Militares Mundiais de 2011, a Copa Mundial de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, serão realmente enormes os investimentos em construção, tecnologia e equipamentos para instalações esportivas.
Em relação aos projetos de arquitetura dos estádios, não teremos (infelizmente) nenhum ícone comparável aos projetos dos arquitetos suiços Herzog & deMeuron, que deixaram as suas marcas em Beijing com o Estádio Olímpico (Ninho de Pássaro) e em Munique, na Copa da Alemanha, com o Allianz Arena. Tive o prazer de conhecer estes estádios, lembrando que o de Munique serviu de referencia à FIFA para a criação das suas Normas para estádios.
Levantamos esta questão em um dos Foruns e fomos contestados pelo consultor contratado pela FIFA para assessorar a CBF na definição dos projetos. Mas a maioria concordou comigo. Talvez o projeto de Manaus seja o mais arrojado e próximo a ser um ícone. É lindo, feito em parceria com um escritório alemão, que aliás também tem mais parcerias em outros projetos da Copa no Brasil.
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Confesso que depois de muita conversa e discussão, de promessas que o governo federal não irá investir diretamente, de dúvidas para saber o que fazer com os estádios em algumas sedes depois da Copa, etc., saí bastante preocupado com os prazos de execução das obras. Não só dos estádios, mas principalmente da infraestrutura de apoio (transporte, comunicação, hospedagem, treinamento, etc.), pois a representante da ANTT , presente deixou bem claro que “o Governo Federal fará (apenas) o possível, e não o exigido pelas Normas da FIFA”. Projetos de metrô (até para Manaus), trem-bala, existem. Deveríamos aproveitar a oportunidade para que ao menos as cidades-sede possam receber os investimentos de melhoria urbana que todas as cidades brasileiras tanto precisam. A oportunidade, com a Copa e a Olimpíada, é única. E provavelmente a última.
Aliás, a respeito deste assunto, gostaria de copiar abaixo um artigo recebido no mailing do CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura):
“A Copa 2014 vai melhorar a condição das cidades-sede?” “Saberemos transformar o desafio em oportunidade?” |
Como uma tábua de salvação, a Copa 2014 para o Brasil surge como uma oportunidade nunca vista antes para atender às necessidades do país em habitação, alimentação, saneamento básico, saúde, transporte, energia, telecomunicações e segurança.
“É preciso cuidar para que não haja desvios de recursos entre as áreas a serem contempladas com aproximadamente R$ 80bi – gastos previstos para a conclusão das obras nas 12 cidades-sede até 2014. Ou de R$ 110bi, caso o prazo se estenda até 2020”, alerta Arlindo Moura, presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Publicas, que participou do painel Habitação, Desenvolvimento Urbano e Copa 2014, realizado na tarde de hoje (04), último dia da 66ª Soeaa, que movimentou Manaus atraindo profissionais de diversas profissões ligadas à área tecnológica.
“Temos que aproveitar a Copa para que ela deixe um legado para o país”, afirma Moura, preocupado com a execução correta de projetos, construção, reforma e aplicação dos recursos, como os R$ 7bi destinados à adequação dos aeroportos.
Evento midiático que levou um milhão de turistas à Alemanha em 2002, e por partida coloca cerca de 600 milhões de pessoas distribuídas por 240 países em frente aos aparelhos de TV, a Copa 2014 serviu de pano de fundo para a participação da arquiteta Rosana Denaldi, que abriu o painel falando sobre requalificação urbana.
Contundente e objetiva, Rosana elencou números que dão conta de que as favelas e os loteamentos irregulares ocupam 50% da área urbana de Recife, 22% da capital paulista, 20% do Rio de Janeiro, 35% de Salvador e Fortaleza.
Na sequência, vinculou essa realidade à violência, ao agravamento da questão ambiental e baixa qualidade de vida e apontou Curitiba como exemplo de que cidade planejada não garante ausência de favelas e lotes irregulares.
Permeadas de contrastes, as cidades brasileiras no período de 50 anos – 1950 a 2000 – tiveram suas populações aumentadas de 36% a 80%. Na Região Metropolitana de São Paulo moram 17% da população brasileira e junto com o Rio de Janeiro apresentam um déficit habitacional de 80%. “O contraste dessa realidade é o alto índice de imóveis vazios: na capital paulista são 515 mil e na fluminense, 266 mil”, informou a arquiteta.
Também preocupada com o tipo de legado a ser deixado pela Copa 2014 nas cidades-sede, Rosana citou Caio Prado, reafirmando que “essa situação dos centros urbanos não decorre do desenvolvimento acelerado e desordenado, e sim da condição de subdesenvolvimento do país”.
Maria Helena de Carvalho
Assessoria de Comunicação do Confea
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Tem tudo a ver este comentário, até porque foi novamente uma voz que confirmou o que já falei em outro artigo aqui publicado….
“essa situação dos centros urbanos não decorre do desenvolvimento acelerado e desordenado, e sim da condição de subdesenvolvimento do país”.
Ou, como disse J.R.Guzzo: “…a questão ecológica real, no Brasil, chama-se pobreza”.
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